segunda-feira, 29 de novembro de 2004

Só passei para dar um "oi".
Essas duas próximas semanas vão ser super puxadas para mim: tenho várias provas, trabalhos e reuniões... Aliás, agora estou estudando para a prova sub de radiologia. Mó legal!

Nesse momento, minha vida está perfeita: consegui ajudar minha amiga; fui para o Congresso e foi muuuito bom (apesar de ter tido que dormir no chão, tomar banho frio todos os dias e passar fome - eita cidadezinha ruinzinha), meu "chefe", admirado e aclamado por muitos presentes lá, apresentou de maneira brilhante (e dando ênfase à importância da participação dos alunos - eu e o Bru) o trabalho que estamos fazendo juntos (os gráficos que me roubaram tantos finais de semana) e foi o maior sucesso; almocei com minha madrinha hoje e foi maravilhoso; eu tinha duas reuniões hoje às 17h30 - fiquei nas duas e fugi das duas (perfeito!).

Agora vou voltar aos estudos porque preciso passar nessa matéria (e porque também estou me divertindo bastante tentando decifrar raios x, tomos, ressonâncias e ultra-sons).

quinta-feira, 18 de novembro de 2004

Não estou muito bem hoje...
Não estou nada bem desde ontem. Não sei o que está acontecendo. Estou irritada, estou elétrica, estou cansada, muito preguiçosa, não tenho comido direito, tenho dormido muito...

Tenho tanto medo da tal doença... alguns dizem que não tem cura, outros dizem "é lógico que tem". Os que dizem não ter cura afirmam que vc tem uma crise que dura cerca de 8/10 meses, depois passa, vc fica bem por um tempo, depois tem outra crise e assim vai vivendo a vida... a não ser que resolva se entupir de remédios e gastar rios de dinheiro com terapia.

Tudo tão incerto.

Não sei se estou apenas estressada pela montanha de coisas a fazer ou se já estou antecipando o sofrimento do "faz 1 ano"... Não consigo parar de pensar "há um ano atrás eu estava...".

Hoje corri o dia todo. Nossa! Que dia!
Às 8h eu tinha reunião no hospital mas não fui (outro sintoma: estou novamente faltando nos meus compromissos), levantei às 8h30 e fui lavar roupa. Saí de casa às 10h30, correndo. Passei na Secretaria de Graduação para ver se tínhamos conseguido fechar a grade horária para ano que vem e descobri que, na verdade, haviam surgido mais alguns problemas (que eu, como representante dos alunos, preciso ajudar a resolver). Falei: "ah, isso é fácil, a gente fala com o professor e resolve sem probelmas" - o maior fingimento! Mas quem sabe ela não fica mais tranquila e tenta resolver tudo sem mim...
Às 11h, fui para o "departamento" de Educação Médica (onde dizem que eu moro porque vivo "trabalhando" lá), encontrei a secretária e reclamei para ela que as confusões do ano passado para a recepção dos calouros estavam se repetindo, que estávamos rediscutindo tudo novamente, sem necessidade etc, etc, etc. Ela falou: "Também acho. Sabe o que vc faz? Leva a ata do ano passado, todas as informações que vc acha que não precisa rediscutir e apresenta. Aliás, vamos agora na sala do diretor executivo resolver algumas pendências". E lá estava eu, assumindo mais trabalho, e, pior, indo novamente me meter na diretoria...
Depois, fui à sala da minha orientadora para ver como estavam os slides da apresentação que eu não consegui fazer e que ela fez com a maior facilidade. Recebi a notícia: a apresentação do nosso projeto no Congresso vai ser na mesma hora da apresentação de um outro projeto dela mas em salas diferentes. Ou seja, ainda valendo as leis da física, ela não pode estar em dois lugares diferentes ao mesmo tempo... então, ela quer que eu apresente o projeto. Apresentação oral! Num Congresso (nunca nem assisti esse tipo de apresentação). Sobre um trabalho que eu nem entendo (muito menos concordo) por que será apresentado. Hahahaha. NÃO VOU!
Falei para ela que não tem como, que eu morro de medo de falar em público, que não me sinto segura... Mas ela insisti em dizer que não tem como ela estar em dois lugares ao mesmo tempo (o que até me parece um bom argumento). Me angustiei horrores com essa história, não sei o que fazer para me safar dessa, mas vou arrumar um jeito.
Enfim, nem tive muito tempo para pensar a respeito pois desci para o Centro Acadêmico e encotrei novos problemas para resolver.

Às 12h, já horrivelmente estressada, larguei tudo e fui almoçar com minha madrinha querida. Conversamos bastante (finalmente!), demos muita risada. Foi ótimo. Mas logo ela teve que ir trabalhar.
Voltei ao Centro Acadêmico. Assim que entrei meu celular tocou. Era minha amiga de infância, com quem eu não falava há meses. Fiquei tão feliz ao ouvir a voz dela, mas logo:
Eu: - E aí, mulher? Como vc está? Tudo bem?
Ela: - Não. Tudo péssimo.
E começou a me contar que a mãe dela piorou da doença que ela tem (que minha amiga ainda não sabe o que é). Ela está tendo surtos, perdeu completamente a noção de realidade, é violenta, acha que está sendo perseguida o tempo todo. Muito provavelmente, ela tem esquizo. Minha amiga largou toda a vida dela (a faculdade, o emprego) para cuidar da mãe mas ela só piora e agora está colocando a vida dela e da família em risco. Ela me ligou porque já não sabe mais o que fazer e precisa de ajuda.
Lá fui eu falar com todas as pessoas que conheço que sei que poderiam ajudar. Mas psiquiatras mesmo que era o necessário, não encontrei nenhum: "liga amanhã, por volta das 11h que a doutora vai estar aqui". Fiquei desesperada.
Liguei para uma outra amiga minha (minha companheira nas caças à PQs) e pedi que ela fosse comigo ao hospital, tentar conseguir falar com alguém. 5 minutos depois me aparece ela, branca feito a recém pintada parede do C.A., com o cabelo todo molhado e uma cara horrível. Sentei para conversar com ela e ela me contou que tinha acabado de vomitar novamente. Comeu pra caramba e vomitou tudo - de novo. Distúrbio alimentar, "fuga", depressão grave... já não sei mais o que fazer com ela.
Mesmo assim, carreguei ela para o hospital comigo (torcendo para, no caminho, encontrar a médica que tem cuidado dos "problemas gástricos" dela).
Mas não fui à psiquiatria. Fui à clínica médica pois precisava resolver os problemas com os remédios da minha vó (a irresponsável veio me dizer, no domingo, que o remédio dela tinha acabado - isso porque eu já expliquei mais de mil vezes que ela tem que me avisar pelo menos 3 dias antes). Corri de um lado para outro, extremamente elétrica, agitada (nessas alturas não conseguia mais nem pensar no que estava fazendo). Não encontrei a médica da minha amiga, mas resolvi o problema da minha avó e resolvi esperar até amanhã (de manhã, já que tem que ser assim com PQs) para encontrar algum psiquiatra.
Liguei para a minha amiga de infância, dei algumas orientações do tipo (se a coisa apertar, chama os bombeiros ou a polícia que eles vão saber o que fazer).
Dei mais umas corridas para resolver pequenas coisas da graduação e fui para a reunião do C.A. Ineditamente, eu tinha 4 pautas para discutir. Aguentei bravamente e consegui discutir 3 (uma boa média). Fui correndo jantar (faltava exatamente 2 minutos para o restaurante fechar). Pelo menos o jantar foi bem sossegado. Encontrei uns amigos e ficamos falando sobre Cabo Verde (terra de uma das minhas amigas da mesa). Ela nos ensinou que esse belo país africano é composto por 9 ilhas, com cerca de 500mil habitantes, sendo que a ilha mais populosa tem cerca de 120 mil. Chegamos à conclusão de que, se algum dia conseguirmos juntar os 1.200 dólares para visitar Cabo Verde, não podemos fazer nada de errado lá, senão o país inteiro fica sabendo em poucas horas (imagina só, se numa cidade "grande" do interior de São Paulo, você faz uma coisinha de nada e vira notícia, imagina num país como esse).
Enfim, voltei ao C.A. e descobri que minha vida estava virada de cabeça para baixo, que eu preciso conversar sobre isso com alguém que não vá me julgar nem dizer "é vc faz coisas demais" mas desmarquei minha terapia que seria amanhã (simplesmente porque não queria ir), que tenho zilhões de coisas a fazer e resolver antes de viajar para Vitória (sexta agora, à noite).
E aí, então?
Depois de surtar, ligar para minha madrinha e não conseguir falar, fazer drama com a Ju, uma das minhas grandes preocupações (que além de tudo, não fala mais comigo direito, mas, pelo menos, ainda passa para me dar tchau - ainda bem que vc passou, fiquei feliz em te ver!), tentar fazer as coisas e não conseguir... larguei tudo, me joguei no sofá do C.A. e fiquei assistindo tv.
Assisti ao filme "Garota Interrompida". Que droga! Por que justamente esse filme estava passando hoje, justamente a essa hora? Chorei horrores, sofri, me questionei se não sou assim que nem uma das loucas do hospício... Foi aí que me veio toda a lembrança da depressão, das teorias, das discussões, dos sintomas.
Terminei o filme e vim escrever. Eu precisava colocar essas coisas para fora... E me fez bem. Estou me sentindo melhor.
Mas, novamente volto a me questionar se não estou me expondo demais... se não deveria escrever isso à caneta e trancar no fundo de algum armário bem escondido.

Como sou complicada, paranóica, medrosa, melancólica...

"Louco é assim que nem pessoa 'normal', mas de maneira ampliada. Quem nunca gritou sem ter razão? Quem nunca quis ser criança para sempre? Quem nunca teve muito medo? Quem nunca mentiu e sentiu prazer em fazê-lo?..."

sábado, 13 de novembro de 2004

Fazia tempo que eu não chorava...
Muito menos por uma besteira tão grande.
Minha orientadora pediu que eu preparasse os slides de uma apresentação que faremos num congresso semana que vem. E eu simplesmente não consegui fazer.
Não acho que essa pesquisa seja boa o suficiente para apresentar num congresso, não acho que eu saiba o suficiente para conseguir montá-la. Não consigo sequer escolher o mais importante, definir as prioridades, montar as tabelas. Nada.
Passei a tarde inteira tentando... até que comecei a chorar na frente do computador e desisti. Simplesmente decide não fazer. Liguei para ela e ela... riu. Disse que não valia a pena sofrer por isso, que era bobeira (sei que é bobeira porque esse congresso nem é tão importante mas meu sentimento de incapacidade foi tão angustiante que foi impossível ignorar).
Ela, sempre tão atenciosa, preocupada comigo, disse que sentaríamos juntas na terça e faríamos isso rapidinho sem problemas. Mas eu sei que ela tá sem tempo, cheia de problemas...

Enfim, por essas e outras que acredito realmente que já superei grande parte dos meus problemas. Sofrer por algo assim tão bobo, tão irrelevante é um bom indicativo de "cura".

quarta-feira, 10 de novembro de 2004

Nossa! Que dia está sendo esse?!
Nunca imaginei que poderia ter um dia tão maravilhoso quanto esse. Dá até medo tanta felicidade... (Engraçado como as pessoas são, né? Ficam sofrendo, perguntando porque não são felizes e quando são, ficam desconfiadas, achando que não merecem tanto ou que se está tudo tão perfeito, alguma coisa de ruim está por vir... ou será que só eu sou maluca assim?)

Acordei às 6h - precisava estudar para minha prova que seria às 8h. No dia anterior eu tentei estudar mas não conseguia me concentrar. Não consegui estudar absolutamente nada.
Cheguei no local da prova, super cedo, encontrei várias pessoas da turma. Pedi que alguém me ajudasse, me ensinasse as coisas mais importantes. Me explicaram e eu constatei que sabia menos ainda do que poderia supor.

Depois, fui almoçar com minha amiga querida (momento raro e maravilhoso).
Voltei para a faculdade correndo pois teria uma reunião de um projeto de pesquisa que estou fazendo. Começamos a reunião, meio bagunçada mas muito divertida. No meio, chegou uma pediatra, professora da faculdade, pessoa fantástica (inteligentíssima, educada, gentil, doce), ela teria reunião logo em seguida com minha orientadora.
A pediatra entrou na sala, minha orientadora apresentou cada um dos estudantes. Quando chegou em mim, a pediatra falou:
- Ah, ela eu já conheço. Oi, que bom te ver. (Virando para minha orientadora, falando de mim) Sabe que ela fez um texto fantástico para o jornal?
- Ah, é?
- É. Ela escreve muitíssimo bem. Nós até incluimos esse texto dela num projeto que a universidade pediu explicando nosso trabalho. (Foi aí que descobri como o vice-diretor tinha tido contato com meu texto que ainda nem foi publicado) Sabe, nós tínhamos feito um texto para mandar, mas quando lemos o dela, achamos que ficou beeem melhor e mandamos os dois.
- Ela é talentosíssima, não é?
- E como! (Virou para mim) Realmente amei seu texto, viu? Você escreve muito bem. Tem um jeitinho todo especial. Parabéns mesmo.

Nossa! Nossa!! Nossa!!! O que foi isso? Fiquei chocada, boquiaberta. Duas das mulheres que mais admiro nessa faculdade, falando bem assim de mim. Como? Logo eu, essa menina tão sem graça, que nem falar sabe direito...
Fiquei estarrecidamente feliz!!!!!

Depois dessa, desci para resolver algumas coisas e, incrivelmente, tudo que pedi, para todas as pessoas que pedi, elas aceitaram fazer sem eu nem ter que insistir.

Reservei meu horário de almoço para minha madrinha com quem há muito tempo eu não conversava direito. Infelizmente, ela estava lotada de trabalho e mais uma vez não conseguimos conversar direito mas mesmo assim foi ótimo porque fiquei lá dando palpite, ajudando-a e dando muuuuita risada. Às vezes, como hoje, ela está inspirada e fala muuuita besteira. É hilário. Aquela mulher, com todo jeito de séria, soltando cada uma... Me diverti horrores.

À tarde, fiquei lavando roupa, escrevendo e-mail e descansando.

Está tudo tão bom na minha vida...
Só não está perfeito porque minha irmãzinha do coração está fazendo aniversário e eu estou longe dela.

domingo, 7 de novembro de 2004

Essa poesia é sobre mim, foi feita especialmente para mim por um amigo muito especial, num dos momentos mais difíceis que passei.
Foram pouquíssimas as pessoas que eu permiti que a lessem, nunca nem pensei em publicá-la num blog - por egoísmo mesmo.
Mas nesses últimos dias, senti vontade de "dividi-la" com outras pessoas e, como sei que ele não se importa, aí vai para vocês.

A Menina e as Rosas

Eu vi a menina das nuvens
chorando, choro engasgado, contido
o brilho do mundo em seus olhos
em um mundo sem motivo, desalegre

Eu vi a menina que sonha
pés no chão, cabeça nas nuvens
em tempos de tanta neblina
por uns dias quase sem sonho

dor
dor de perder
a dor de partir, a dor
do quase se for
partindo
seus sonhos seus sentimentos suas nuvens

Partiu um pedaço de si
pras nuvens

O choro contido, engasgado
na ânsia da libertação
com o grito contido, engasgado
saíram
trovejaram
nuvens de lágrimas agora,
e dor

dor
de perder
dor do partir
repartiu sua alma

E a moça que vive nas nuvens
num gesto de singelesa
grandioso deveras
fez de sua dor poesia

Transmutou-a em rosas rubras
e as distribuiu feito amor
colorindo de azul tantos dias nublados das vidas
de pessoas que de tanto ver cinza
não lembravam que ainda existia o tal
do amor

quinta-feira, 4 de novembro de 2004

Um dia de "reconhecimento"

*5h30 (manhã): resposta de e-mail do Presidente da Comissão de Graduação, todo 'fofo' (que atrevimento o meu, não?):
"Oi. Tudo bem com você?" (Às vezes ele tem uns surtos de querer cuidar de mim... acho tão estranho.)
*8h00: antes da reunião, o "chefe" falando com outros professores:
- A única que pode alterar qualquer coisa, reclamar, é aquela ali (e apontou para mim). Ela sim pode fazer o que ela quiser.
Eu: ????
*8h30: Iniciada a reunião, o "chefe", depois de ter dado as explicações iniciais para os ilustres professores:
- Então, senhores, eu vou apresentar tal e tal coisa. Você (apontou para mim) não quer vir aqui na frente para fazer os comentários e ir me corrigindo se eu falar alguma besteira?
- Eu???
- É.Você. Você é a maior especialista nesse assunto aqui. É só para explicar melhor o que fizemos.
Obviamente, eu quase infartei na hora. Imagina essa tímida, a maior envergonhada sendo chamada assim de surpresa por uma das pessoas que mais admiro para "dividir" uma apresentação... e ainda ouvir que sou a maior especialista no assunto (tudo bem que não é um assunto assim tão importante para a humanidade). Fui lá, fiquei calada a maior parte do tempo (só para variar), mas também dei minhas explicações, minhas contribuições. E estava bem à vontade. Acho que me saí muito bem.
*18h15 (passei a tarde fora da facul e foi ótimo!): Eu entrando em casa, vejo de longe o vice-diretor da faculdade. Imagina, achei que ele nem ia me cumprimentar ("mal deve saber quem sou"). Ele me olhou (estávamos longe), falou oi. Respondi "oi" e continuei andando. Ele gritou:
- Li seu texto, viu?
Parei, olhei de novo para ele: - Ah, é? (???)
- Achei muito bom! Parabéns!!!
Continuei andando, morrendo de vergonha:
- Obrigada!

Acho que se eu fosse menos envergonhada, aproveitaria muito mais esses momentos tão raros e especiais.
Como é bom ver que as pessoas gostam do que a gente produz, não?

Saiba
(Arnaldo Antunes)


Saiba: todo mundo foi neném
Einstein, Freud e Platão também
Hitler, Bush e Sadam Hussein
Quem tem grana e quem não tem

Saiba: todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
também você e eu

Saiba: todo mundo teve medo
Mesmo que seja segredo
Nietzsche e Simone de Beauvoir
Fernandinho Beira-Mar

Saiba: todo mundo vai morrer
Presidente, general ou rei
Anglo-saxão ou muçulmano
Todo e qualquer ser humano

Saiba: todo mundo teve pai
Quem já foi e quem ainda vai
Lao Tsé, Moisés, Ramsés, Pelé
Ghandi, Mike Tyson, Salomé

Saiba: todo mundo teve mãe
Índios, africanos e alemães
Nero, Che Guevara, Pinochete
também eu e você