quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004

EU MESMA

É engraçada a maneira como estou me sentindo. Pareço outra pessoa mas na verdade sou muito mais eu mesma do que nunca. Esses dias tropecei (literalmente) no meu Psiquiatra e começamos a conversar sobre os efeitos da depressão e sua recuperação. Ele me fez crer que estou me recuperando muito bem e que essa vontade de trabalhar, de falar sou eu realmente sem a doença.
Minha mãe sempre me disse que até os 6 anos eu era uma criança totalmente normal: ria, brincava, aprontava pra caramba (e punha culpa no meu irmão). Mas depois dessa idade (acredito que depois de alguns acontecimentos sérios e realmente traumatizantes) me tornei uma criança triste, calada, sozinha. Andei pensando e acho que foi aí que comecei a ficar doente. E isso piorou com a repetição de um desses acontecimentos quando eu tinha 11 anos. Me fechei totalmente. Não queria mais falar, não queria mais sair, não queria que ninguém me visse (eu só ia para a escola e dormia o resto do dia todo). Minha vida passou a ser realmente triste - porque eu não sabia (ou não conseguia) aproveitá-la.
Mas, em certos momentos, quando me sentia melhor, eu percebia que ser tímida não era algo da minha personalidade. Às vezes eu fazia coisas meio loucas que uma pessoa tímida nunca faria - e me sentia bem com isso. Acredito (agora mais do que nunca) que não nasci tímida, me tornei tímida.
Depois que comecei o tratamento medicamentoso, depois de acertada a dose, passei a fazer coisas que me deixam extremamente feliz mas que antes eu não faria por vergonha. Consigo raciocinar melhor em reuniões e às vezes até arrisco uma intromissão ou um "não estou entendendo nada, você pode explicar a história desde o começo", mesmo sabendo que sou a única que não a conhece.
Por outro lado, acho que tenho magoado ou assustado algumas pessoas que não estavam acostumadas a esse meu jeito. Às vezes alguns me olham meio que perguntando "quem é essa louca? Não pode ser a Paloma que eu conhecia...".
Fazendo muitas coisas ao mesmo tempo, tentando "recuperar" todos esses anos que perdi afundada na depressão, acabo não conseguindo dar toda atenção que eu gostaria aos meus amigos e eles passam a achar que não quero mais falar com eles (que grande besteira).
A Amandinha, por exemplo, tentou me ligar várias vezes na semana passada... mas, como eu estava chegando depois das 22h todos os dias, ela desistiu e deve estar se sentindo abandonada por mim. E eu com tantas saudades dela...
A Larissa, coitada, tenta se aproximar, me liga, vai me ver onde eu estiver e ainda tem que ouvir minhas reclamações do tipo "vocês não ligam mais para mim, marcam as coisas e não me chamam, vocês não estão nem aí se eu estou ou não com vocês, né?Achei que poderiam pelo menos sentir um pouquinho minha falta..." Êta excesso de carência! E lá vai ela, tão bonitinha, tentar explicar que eu estou distante, o tempo todo ocupada, que ela não esqueceu de mim, mas às vezes acha que eu quero me afastar... Sei lá! É uma mistura de sentimentos e vontades opostas em mim que fico sem saber o que fazer...
Enfim, estou muito bem, estou muito EU, mas ainda não estou equilibrada e ainda não sei viver em harmonia com tantas vontades, tantos desejos, tanta garra, tanta saudade, tantos sonhos, tanta "eletricidade"...

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