domingo, 2 de setembro de 2001

Voltei!!!

Finalmente, um fim de semana de sossego em casa... ou quase sossego. Minha mãe resolveu fazer um churrasco para os escadalosos amigos dela. Estou quase surda e não aguento mais ouvir forró.

Acho que já perdi o objetivo que esperava alcançar nesse blog: escrever sobre assuntos polêmicos, formar e reformar opiniões... mas tudo bem, ninguém vai ler mesmo. Então, faço desse blog de hoje (pelo menos), um diário para desabafar pois estou precisando. E se por acaso alguém tentar ler acho que não vai conseguir pois tenho muito para botar para fora e esta página vai ficar enorme e muito chata.

Não estou triste, nem deprimida, nem cansada ou estressada, mas estou estranha.
Tudo começou no sábado, quando, numa infeliz atitude, decidi ir para Campos do Jordão. A viagem foi ruim, mas não é essa o problema... O problema é que deixei meu objetivo de lado. No dia seguinte teria a prova do Enem e eu não podia ter viajado, devia ter ficado para manter meu bem estar físico e emocional.
Cheguei de Campos às 3:30 da madrugada, super cansada e um pouco estressada pelos problemas que enfrentamos lá (e que não vêem ao caso). Fui fazer a prova no domingo e não estava bem. Estava com o corpo dolorido, estava impaciente, queria acabar logo e ir para casa. Conclusão: não fiz uma boa prova... em nenhum momento consegui lembrar dos meus mandamentos de vestibulanda, principalmente: "toda questão tem solução" e "cada questão deve ser resolvida como se fosse a única - cada ponto é importante". No dia seguinte fui para o cursinho e me senti a pior das criaturas. Não tinha ido bem, alguns amigos tinha ido pior e estavam deprimidíssimos, o clima estava tenso.
À tarde liguei para uma amiga. Ela fez cursinho ano passado, não estudou direito, não passou e decidiu não voltar e ir trabalhar. Ela me deu alguns conselhos. Me falou que se arrependeu muito de não ter estudado, de ter feito tanto "social" como fez. Ultimamente, eu andei fazendo muito isso: fui à baladas, cabulei algumas aulas, conversei muito durante outras, perdi algumas horas de estudo conversando e pensando em futilidades, viajei na véspera de uma prova... Depois de nossa conversa decidi mudar de atitude - precisava voltar a caminhar para um único objetivo.
No dia seguinte, acordei melhor e decidida a mudar. Cheguei ao cursinho e procurei novo lugar para me sentar. Sentei mais na frente, do outro lado da sala, longe da maioria dos meus amigos, estudei bastante, me dediquei de corpo e alma à aula de Ballet (enquanto estava lá) e estudei mais à noite. Foi ótimo, me senti muito bem.
Só que, no dia seguinte, vieram as inevitáveis críticas. Disseram que eu estava muito diferente, que eu estava sendo egoísta pois havia prometido ajudar alguns a estudar, que estavam me achando triste e desanimada. É claro que sentar longe não é tão divertido, mas quem disse que cursinho é lugar para diversão? Eu estava me sentindo bem por ter mudado e é isso que importa, eu não posso ficar pensando nos outros... as críticas só serviram para reafirmar minha posição, apesar de terem me deixado um pouco chateada.
A semana passou assim, entre críticas e muito estudo. E aí, aconteceu mais. Na sexta, minha amiga bailarina Amanda me ligou para irmos assistir ao Kirov. Eu já tinha desistido de ir, eu nem queria mais mas ela e minha irmã acabaram me convencendo. Liguei para Milene, porque queria que ela fosse também, mas não a encontrei. Acabei indo com as duas insistentes. Quando chegou lá, quando ouvi e vi a orquestra, me senti mal, chateada... nem sei bem porque. Acho que invés de estar assistindo eu queria estar no palco... Sonho meu!!! A Amanda percebeu que eu estava diferente, começou a falar várias coisas que eu rebatia e discordava, meio que sem querer. Chorei muito durante o espetáculo, repensei várias decisões que tomei na vida. Fiquei muito fragilizada.
No dia seguinte era meu aniversário. O pessoal do cursinho fez uma pequena festinha para mim, com um bolo delicioso. Eu nunca havia me sentindo tão querida por tanta gente como me senti nesse dia. Eles são maravilhosos. Depois, fui comer no Mc Donalds com a Paulinha, conversamos bastante. Encontrei uma amiga do CCAA que não via há mais de um ano. Foi tudo muito bom.
Mas ao voltar ao cursinho comecei a pensar muito sobre tudo. Sabe aquelas crises de: "o que estou fazendo com minha vida?" que bate, às vezes? Pois é, acho que estou numa dessas.
Fiquei pensando que quero mudar minha atitude, fazer as coisas que deixo de fazer por medo ou por excesso de responsabilidade. Quero estudar muito, aprender muito mas também quero me divertir, quero dançar ballet com aquela expressão encantadora que vi no Kirov, quero me soltar, me libertar. Não precisa ser 8 ou 80. O meio termo é o ideal. No meio desses pensamentos lógicos mas ilógicos, comecei a ouvir músicas de Tango, que vinham da academia ao lado. Sempre quis assistir às danças da academia mas "nunca tinha tempo". Resolvi ir até lá. Havia várias pessoas dançando, outras conversando e entre elas a Gabi e a Ju, duas bailarinas clássicas maravilhosas que faziam aula de Ballet comigo. De repente, o professor parou a música, todos sentaram e ele chamou a Gabi. Começaram a dançar e... meu queixo caiu! Era uma dança maravilhosa e apesar da Gabi não ter muita técnica do Tango, ela tinha uma expressão perfeita. Me encantou completamente. Mas tive que voltar ao cursinho para estudar.
Hoje (domingo), já na casa dos meus pais, estava assistindo tv e quem eu vejo? A Ana Botafogo, sendo entrevistada no Gente Inocente. Depois minha irmã me chamou pois estava passando "O Lago dos Cisnes" na tv à cabo.
Quase não acreditei no que estava acontecendo: primeiro minha crise de mudança, depois o Kirov, meus amigos, nova crise, a Gabi dançando Tango e para terminar, a Ana Botafogo e um programa especial sobre dança. Isso foi pra me lembrar que eu amo dançar e que podia estar aproveitando minha juventude e minha saúde? Regredi e voltei a pensar se não era melhor fazer faculdade de dança na Unicamp ou prestar um curso mais fácil, que não precisa de tanta dedicação (como exige a Medicina) para poder me dedicar à Dança e à minha vida social, como eu gostaria. Essa regressão só durou uns 5 minutos pois sei que o quero é Medicina e estou disposta a sacrificar a dança (não totalmente, é claro) para ser uma boa médica. Parece que de tempos em tempos esses elementos importantes para mim voltam a me atormentar, como um obstáculo que tenho que pular para reafirmar meu desejo pela Medicina.
Não sei o estou sentindo agora. É como se estivesse anestesiada, fora do mundo real. Sei que quero fazer Medicina e que tenho que me dedicar muito para isso, mas também sei o quanto o Ballet e meus amigos são importantes para mim. Acho que essa semana ainda vai ser meio conturbada, mas isso é bom porque vou poder fazer algumas "experências". Não sei se é possível, mas quero me dedicar aos estudos reservando tempo para a dança, para meus amigos, para minha família e para a internet. Preciso refazer meus planos de estudo para conciliar tudo.
O que já está decidido mesmo é que vou continuar sentando longe dos meus amigos no cursnho, que não vou mais ficar conversando à tarde e que vou me dedicar às aulas de Ballet como nunca fiz antes, sem nem lembrar que existe vida fora da sala, enquanto estiver lá.

Acho que já escrevi demais por hoje... Vou parando por aqui, mas volto a escrever assim que puder

:-)

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