Descobri esses dias que minha mãe me deixou uma herança: uma dívida de R$2.000,00 que se eu não pagar, os juros continuam a correr até o dia em que eu tiver um bem (carro ou imóvel). Daí a prefeitura leiloaria meus bens para pagar a tal dívida que nem é minha. Legal, né?
Fui ao cartório tentar saber mais informações, tentar me livrar desse absurdo. Todas as pessoas foram extremamente gentis comigo (eu esperava encontrar funcionários públicos mal-humorados, mas só encontrei pessoas gentis e sorridentes). Ficaram morrendo de pena: "perdeu a mãe tão nova e ainda vai ter que se virar para pagar essa dívida". Mas obviamente não me livrei de nada...
Incrível como as tragédias acontecem todas ao mesmo tempo. Eu estava num bom momento da minha vida, tentando me estabilizar com a faculdade, preparando meu internato, feliz com meu olho novo. Aí perco minha viagem, meu pai começa a namorar uma dançarina de boate (para não dizer puta mesmo) de 21 anos, minha vó fica doente, é internada, me vejo sozinha para cuidar dela, sozinha, o tio da minha amiga morre de câncer, mais um primo da minha irmãzinha desenvolve leucemia, ganho essa herança, minha irmã prestes a prestar vestibular começa a surtar (tenho quase certeza que ela não vai passar de novo)...
E, no meio disso tudo, ainda tenho que aguentar fofocas de pessoas maldosas a minha volta, mais um grande decepção de uma amiga especial, pessoas surtando por coisas das quais não tenho culpa (apesar de me acusarem). Fico me perguntando por que as pessoas não podem cuidar de suas próprias vidas ao invés de ficar fofocando, alimentando a discórdia. Por que as pessoas acreditam tão facilmente em coisas ruins, desconsiderando todo um passado de coisas boas, por que as pessoas não conseguem simplesmente ser felizes, sem se preocupar tanto com picuinhas, sem ficar dando importância para coisas tão bestas. Pior ainda, por que as pessoas pegam essas coisas pequenas e transformam em problemas e se auto-prejudicam.
Eu tenho certeza do erro que uma pessoa está cometendo. Todos têm certeza. Só ela não consegue enxergar. Coitada. Também... vivendo rodeada de pessoas que se dizem suas amigas mas que na verdade fazem tudo para ela ficar triste, servem de espiãs achando que estão fazendo um favor, e só dissipando discórdia e sofrimento. Amigos... eu é que não quero amigos como aqueles... não sei como ela consegue conviver com eles. Ah... talvez seja isso... talvez ela não consiga mais conviver com eles e por isso está fazendo todo esse circo.
Pensando bem, talvez esses problemas todos vieram para que eu pudesse enxergar o quanto essas picuinhas são pouco importantes, o quanto é desnecessário dar importância para determinadas coisas. Que me desculpem os que estão surtando, mas agora que consegui ficar bem depois de tudo o que passei essas semanas, não vou me envolver em loucuras, não vou me dar ao trabalho de me meter em problemas que não existem, que foram criados por mentes inseguras e com idéias persecutórias. Não vou tentar expor a minha opinião. Simplesmente porque ela é minha. Demorei a entender e aceitar isso, mas a verdade é que nossa opinião sempre vem acompanhada de crenças e vivências que são muito subjetivas e que dificilmente a gente consegue expor em toda a sua complexidade numa conversa de uma hora.
Para lidar especificamente com essa pessoa, é preciso entrar na loucura dela, é preciso estar envolvida com o mundo maluco que ela cria. Eu não tenho capacidade de me fazer entender por ela. Já tentei um milhão de vezes e no final das contas ela só ouviu aquilo que ela quis, ela conseguiu distorcer o que eu disse e, pior, depois usou minhas palavras colocada em ordem e tom diferente para justificar suas loucuras. Impossível. Estou exausta dessa história e simplesmente vou deixar as coisas seguirem. O que tiver que acontecer, vai acontecer. E, no final, eu vou passar por um internato maravilhoso, vou aprender horrores, vou me divertir com as pessoas que quiserem se divertir comigo, vou trabalhar, estudar e superar os problemas. Vou me formar, feliz por ter cumprido mais uma etapa da minha vida, sentindo o orgulho da minha mãe me vendo de beca e sabendo que ela me criou bem, que cumpriu sua missão. Vou ver os olhos marejados da minha irmã, que me tem como exemplo e que quer ter uma carreira bem sucedida também. Vou provar para meu pai que apesar de todas as dificuldades que ele me impôs, eu consegui superar e venci e que se ele precisar de mim dali para frente, eu vou poder ajudá-lo em tudo, sem criar dificuldades, sem vingança nem ressentimentos.
Just Let it go!
"O que não enfrentamos em nós mesmos encontraremos como destino." Carl Gustav Jung
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
Sabe aquela sensação de que você está fazendo uma besteira da qual vai se arrepender enormemente daquia pouco?
Pois é... mas não consigo fazer diferente. Sinto que é assim que tem que ser e que vou ter que passar por esse arrependimento.
A vida é assim: cheia de escolhas. Certas ou erradas, acredito que se forem escolhas feitas com o "coração", o arrependimento não será tão grande.
O problema é saber que parte de nós está falando mais alto...
«É ao outro, a Borges, que acontecem as coisas. Eu caminho por Buenos Aires e demoro-me, talvez já mecanicamente, a olhar o arco de um alpendre e o guarda-vento; de Borges tenho notícias pelo correio e vejo o seu nome num grupo de professores ou num dicionário biográfico. Gosto dos relógios de areia, dos mapas, da tipografia do século XVIII, do sabor do café e da prosa de Stevenson; o outro compartilha dessas preferências, mas de um modo vaidoso, que as converte em atributos de um actor. Seria exagerado afirmar que as nossas relações são hostis; eu vivo, eu deixo-me viver, para que Borges possa tecer a sua literatura e essa literatura justifica-me. Nada me custa confessar que conseguiu certas páginas válidas, mas essas páginas não me podem salvar, talvez porque o que é bom já não é de ninguém, nem sequer do outro, mas sim da linguagem ou da tradição. Além do mais, eu estou destinado a perder-me, definitivamente, e apenas algum instante meu poderá sobreviver no outro. A pouco e pouco vou cedendo-lhe tudo, embora não desconheça o seu perverso costume de falsear e de magnificar. Spinoza entendeu que todas as coisas querem perseverar no seu ser; a pedra quer eternamente ser pedra e o tigre um tigre. Eu hei-de ficar em Borges, não em mim (se é que sou alguém), mas reconheço-me menos nos seus livros que em muitos outros ou que no laborioso zangarreio de uma viola. Há anos procurei libertar-me dele e passei das mitologias do arrabalde aos jogos com o tempo e com o infinito, mas esses jogos são agora de Borges e terei de idealizar outras coisas. Assim, a minha vida é uma fuga e perco tudo e tudo é do esquecimento ou do outro.
Não sei qual dos dois escreve esta página.»
(BORGES E EU, Jorge Luís Borges, Poemas Escolhidos)
Pois é... mas não consigo fazer diferente. Sinto que é assim que tem que ser e que vou ter que passar por esse arrependimento.
A vida é assim: cheia de escolhas. Certas ou erradas, acredito que se forem escolhas feitas com o "coração", o arrependimento não será tão grande.
O problema é saber que parte de nós está falando mais alto...
«É ao outro, a Borges, que acontecem as coisas. Eu caminho por Buenos Aires e demoro-me, talvez já mecanicamente, a olhar o arco de um alpendre e o guarda-vento; de Borges tenho notícias pelo correio e vejo o seu nome num grupo de professores ou num dicionário biográfico. Gosto dos relógios de areia, dos mapas, da tipografia do século XVIII, do sabor do café e da prosa de Stevenson; o outro compartilha dessas preferências, mas de um modo vaidoso, que as converte em atributos de um actor. Seria exagerado afirmar que as nossas relações são hostis; eu vivo, eu deixo-me viver, para que Borges possa tecer a sua literatura e essa literatura justifica-me. Nada me custa confessar que conseguiu certas páginas válidas, mas essas páginas não me podem salvar, talvez porque o que é bom já não é de ninguém, nem sequer do outro, mas sim da linguagem ou da tradição. Além do mais, eu estou destinado a perder-me, definitivamente, e apenas algum instante meu poderá sobreviver no outro. A pouco e pouco vou cedendo-lhe tudo, embora não desconheça o seu perverso costume de falsear e de magnificar. Spinoza entendeu que todas as coisas querem perseverar no seu ser; a pedra quer eternamente ser pedra e o tigre um tigre. Eu hei-de ficar em Borges, não em mim (se é que sou alguém), mas reconheço-me menos nos seus livros que em muitos outros ou que no laborioso zangarreio de uma viola. Há anos procurei libertar-me dele e passei das mitologias do arrabalde aos jogos com o tempo e com o infinito, mas esses jogos são agora de Borges e terei de idealizar outras coisas. Assim, a minha vida é uma fuga e perco tudo e tudo é do esquecimento ou do outro.
Não sei qual dos dois escreve esta página.»
(BORGES E EU, Jorge Luís Borges, Poemas Escolhidos)
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