sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

Engraçado como esse blog virou um tipo de diário mesmo.
Eu odiava essa idéia de escrever sobre o meu dia ou sobre alguma coisa minha mas agora... Claro que posso continuar postando músicas, poesias, textos críticos... mas os meus preferidos nesse momento são os posts tipo esse próximo e a maioria dos últimos. Quem diria...?

Ontem fui conversar com a professora de ballet da minha irmã. Fui pedir ajuda para cuidar dela porque sei que se ela precisar, ela não vai vir me procurar. A Márcia (essa professora) é uma pessoa muito especial, atenciosa, carinhosa, companheira, uma das pessoas que minha irmã mais ama. Eu nunca tive muito contato com ela mas no dia do velório da minha mãe, começamos a conversar e ela se dispôs a ajudar no que nós precisássemos "sem me meter demais na vida de vocês".
A nossa conversa de ontem não foi muito boa. Eu esperava ter falado mais, ter ouvido mais, mas não consegui me abrir com ela, não consegui dizer o que eu queria... Acho que conseguimos estabelecer um vínculo mínimo mas nada parecido com o que eu esperava. Paciência.
Depois que saí de lá, fui andando até o ponto de ônibus e, no caminho, tinha uma igreja. Não sei o que aconteceu mas quando dei por mim, eu estava lá dentro da igreja, sentada em um dos bancos chorando um tanto.
Eu sempre fui meio contra religiões. Principalmente a católica que é a que conheço melhor. Até acho importante as pessoas terem uma religião, praticarem algum tipo de coisa assim mas sem o tal fanatismo ou a cegueira com que alguns ficam. Sem acreditar em tudo que é dito.
Eu nunca tinha entrado numa igreja assim, sem ser uma ocasião muito especial (tipo casamento ou missa de 7º dia). Nem sei porque entrei ontem, só sei que entrei e comecei a pensar na minha vida, na vida da minha irmã, na nossa relação um tanto quanto conturbada, na minha história (que ela não entende porque não conhece), na conversa com a Márcia, nos meus amigos, na minha mãe... e comecei a chorar. Por um lado foi tão ruim porque senti uma angústia tão grande, me senti na escuridão, me senti responsável por tanta coisa, novamente senti todo o peso que carreguei e que vou ter que carregar, senti o peso do amadurecimento.
Por outro lado, me senti aliviada, como se tivesse enxergado uma luz no meio da escuridão. Uma luz bem pequena mas uma luz. Como nunca havia feito, desejei que minha mãe ficasse em paz, que ela fosse se cuidar mesmo que fosse longe de mim, desejei contar a minha irmã toda essa minha história que ela não conhece. Percebi o quanto estou amparada pois para cada problema que pensei em resolver, visualizei um amigo para me ajudar. Até para aqueles momentos em que eu vou me sentir triste e sozinha, já sei para onde correr, para onde ligar dependendo do tipo de angústia que vier junto. Inédito. A igreja pareceu para mim um oásis no meio do deserto, um lugar de calma e tranqüilidade no meio de uma cidade barulhenta e cinza.
Fui para minha casa me sentindo estranha, estava deprimida, cansada. Liguei para a Amanda mas o telefone só chamou. Conversei um pouco com minha vó e fui dormir. Eu estava me sentindo podre, podre mesmo.
Acordei com meu celular tocando. Era um garoto da faculdade, com quem não converso muito.
- Alô.
- Paloma? Oi. Tô te ligando porque tava aqui em casa sozinho e queria conversar.
- Haha. - dei risada porque nunca imaginei ele falando nisso. Na hora nem levei a sério porque se ele estivesse se sentindo sozinho e só quisesse companhia mesmo, acho que eu seria uma das últimas da lista dele.
- Na verdade não é isso. Bem, eu estou sozinho mesmo mas tô ligando porque acabei de ler meus e-mails e queria te perguntar umas coisas... (eu tinha mandado vários e-mails para o e-groups da turma)
Conversamos um pouco, eu respondendo quase em monossílabos, morrendo de sono.
- Você tá bem? Tá com uma vozinha desanimada.
- É... não tô muito legal. Tive uns problemas hoje, fiquei meio mal.
- Você sabe que qualquer coisa que precisar pode me pedir, né? Pode me ligar a qualquer hora, pode pedir o que quiser...
- Sei, valeu.
É engraçado pensar nessa curta conversa que tivemos. Nós realmente não somos muito amigos, a gente se vê super pouco, fala menos, eu xingo muito ele porque às vezes ele é muito grosso com as pessoas, mas ele me passou uma confiança enorme. Me lembrei de um dia em que eu precisava do telefone de uma amiga nossa, liguei para ele e acho que a mãe (ou a namorada) atendeu, sei lá.
- Olha, ele tá dormindo, quem ta falando?
- É a Paloma.
- Paloma? - pausa - da faculdade?
- É... Eu precisava falar com ele mas tudo bem, eu ligo outra hora.
- Não, peraí, acho que ele vai falar.
Óbvio que ele não estava dormindo. Ele atendeu o telefone, perguntou como eu estava, me ajudou no que eu precisava... foi legal. Me senti um pouco lisonjeada por ele ter atendido, não querendo, só porque era eu.
Depois que desliguei o celular ontem fiquei pensando que poderíamos ter conversado mais. Talvez ele realmente estava precisando conversar, diminuir a solidão... Mas eu precisava dormir mais, eu precisava ficar quietinha no escuro.
Deitei, rolei, rolei e não dormi, só sonhei. Liguei a TV e fiquei queimando uns neurônios assistindo à novela das oito, a MTV, a burra da Rede TV e depois o idiota da bandeirantes. Eu estava tentando arrumar força das minhas entranhas para levantar. Consegui umas 3 horas depois. Mas levantei com ânimo, estava mais elétrica, melhor. Incrível a minha instabilidade...
"Não tente ir contra você. Quando estiver se sentindo feliz. Fique feliz, aproveite a felicidade, não se culpe. Mas, quando estiver se sentindo triste, fique triste, chore, chame alguém se quiser conversar, ou fique quieta no escuro se estiver precisando ficar sozinha. Você pode fazer o que quiser, se sentir como estiver e sempre vai ter aquelas pessoas que vão entender e aquelas que não vão. Da mesma forma que aconteceria se você fingisse. Viva. Viva de verdade, com o coração."

Nenhum comentário: