segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004

Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
De repente me bateu uma tristeza. Uma vontade de ir pra casa e ficar chorando em baixo das cobertas. Uma saudade da semana passada e de quanto eu estava feliz.
Não sei o que é nem de onde veio mas tá doendo um tanto...
Não vou pra casa porque sei que vou dormir e não fazer nada de útil. Então, fico aqui, esperando a Larissa sair da Liga, tentando pesquisar a tal da S. aureus para o trabalho de Microbio, tentando conseguir forças para ir à biblioteca estudar alguma coisa, tentando esquecer o inesquecível.

Apesar que, pensando sobre o que fiz esses dias e o que fiz hoje acho que até tenho motivos para estar triste. Vamos ver se são aceitáveis (por hoje):

1) Não consigo voltar a tratá-lo normalmente. Queria pará-lo para falar "oi" quando o visse no corredor, queria conversar sobre besteiras, dançar no meio do CA só pra diversão... mas mal consigo olhar para ele e não sei por que. Será que ainda está muito recente e eu tenho que dar um tempinho para mim? Que saudades...

2) Na aula de Preventiva hoje, a professora ficou um tempão falando como se preenche uma declaração de óbito (DO). Quando peguei aquele papel na mão, veio um filme na minha cabeça: quando EU tive que ir ao cartório pegar o atestado de óbito da minha mãe, ler o DO, ler o atestado, a causa mortis. Me lembro bem que estava escrito: choque cardiogênico. E eu me perguntava por que não estava escrito Doença de Chagas. Depois, acabei descobrindo... E hoje, naquela aula, tive que ouvir umas 300 vezes: "Primeiro se coloca a causa direta da morte, 'Devido a ou como consequência de' e por último colocamos a causa básica". Eu já sabia disso. Já sabia muito bem e não queria mais ficar colocando as tais causas, de seres fictícios, em ordem de importância. É óbvio que eu nunca vou esquecer como se preenche uma DO. Não vou porque cansei de ler a da minha mãe e acabei "aprendendo" bem a tal ordem. Eu sei que os outros alunos precisam aprender aquilo, eles precisavam daquelas 300 repetições para aprender. Mas eu não. E não me perdôo por me ter feito ficar lá, ouvindo toda aquela babozeira que só estava me fazendo mal.

3) Na aula de Pato, à tarde: atrofia, hipertrofia, hiperplasia. Adivinhem só: corações com hipertrofia, cérebros com lesões devido à isquemia, "quando uma pessoa sofre um AVC e perde os movimentos...", várias coisas nas quais eu já sou praticamente especialista. E que me fazem lembrar... e lembrar...

4) Um amigo: - Acho que acabou. Vou me afastar dela (uma amiga nossa).
Eu: Calma, meu, também não é assim. Você não precisa ser tão radical.
- Ah, mas eu tô cansado dessa história. Acho que o melhor mesmo é a gente se afastar. Ela está me tratando muito estranho e...
- Mas vocês se gostam pra caramba... Agora vai querer fazer o clube do bolinha de um lado e o da luluzinha do outro? Para que ter essa quebra?
Ridículo! Cada vez mais, os melhores amigos da minha sala, mesmo se gostando, estão se afastando por mal entendidos ou pequenas besteirinhas infantis. Uma tristeza só.
Na hora do almoço, eu estava sozinha e encontrei um outro amigo que sentou na minha mesa:
Eu: - Tenho sentido que você tem se afastado de todo mundo... que ta acontecendo?
Ele: - Ah, meu, cansei dessas besteirinhas de criança, desse nhemnhemnhem. As pessoas exigem demais da gente e acham que têm muito a nos ensinar. É ridículo como esse pessoal se acha bom, se acha superior. Ultimamente, sozinho, tenho conseguido fazer muito mais coisas, tenho estudado melhor, tenho vivido melhor. Não preciso ficar grudado nesse povo... E você? Também percebi que se afastou do pessoal...
- É, pois é. Cansei de muita coisa também. Estou precisando de tempo para mim, precisando me cuidar. E certas pessoas exigem muito e não fazem o menor esforço para parar e te ouvir ou tentar te entender. Eles só querem, querem e querem. Eu fiz ótimos amigos aqui na faculdade, pessoas que eu não preciso ver nem falar todo dia para continuar tendo uma amizade incrivelmente especial. Eu percebi que não preciso ficar grudada para manter uma amizade com aqueles que são meus verdadeiros amigos. Essa até acabou sendo uma forma de eu perceber de quem eu realmente sou amiga, de quem eu sinto falta, com quem eu me preocupo e coisas assim. Estou tentando me cuidar, antes de qualquer outra coisa, dar valor a mim.
- É... a gente pode ter nossas diferenças mas concordamos de vez em quando, né? É aquela coisa: a gente quase não se fala, a gente discute pra caramba, mas eu sei que se eu precisar de você, como já precisei, posso contar a qualquer momento e você deve sentir a mesma coisa. A gente não concorda mas a gente se apóia e isso é o que importa no fim das contas...
Apesar de boa a conversa, foi triste. É ruim assistir a esse show de desentendimentos. Pior ainda é participar dele.


Eu sei que para o resto da minha vida verei pessoas brigando e se desentendendo, mesmo nenhuma (ou as duas) estando errada, para o resto da minha vida vou ouvir falar em ICC, coração hipertrofiado, AVC, reabilitação... Mas acho que ainda não estou pronta para esse "de repente", ainda preciso de uma certa preparação psicológica antes de me deparar com esses assuntos. É pedir demais? Tipo: quando eu for na Liga de ICC, já sei que vou ver pacientes com histórias muito parecidas com a da minha mãe e tal. Mas, quando é que eu poderia imaginar que numa aula de Medicina Preventiva, eu teria que ouvir 300 vezes sobre a tal ordem de causa da morte? Nunca. Aliás, eu nunca pensei que aprenderia isso numa aula. Achei que era uma coisa que a gente aprendia na prática, quando precisasse fazer...

Enfim, ainda bem que tranquei matrícula, que amanhã não tenho prova de Anato Urinário nem provinha de Microbio, posso dormir até mais tarde, me recuperar da "fossa" falando no telefone até tarde e recomeçar amanhã. A filosofia agora é: me senti mal? paro, durmo, como, penso, falo bastante, faço algo legal e logo melhoro. Tem dado certo...

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