sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Frequentemente vejo críticas a médicos (da imprensa, de pacientes, de acompanhantes), dizendo que eles não dão a devida atenção aos pacientes, que não atendem casos graves com a rapidez necessária, que deixam a pessoa agonizando numa sala de espera, sem dó, entre outras.

Como em qualquer lugar e qualquer área profissional, há bons profissionais e maus profissionais. Claro!
Vamos aqui considerar apenas os bons.

Muitas vezes, o que as pessoas consideram grave ou "urgente" não é nem de perto grave e urgente para a Medicina. Condutas médicas são criticadas muitas vezes porque não se conhecem os fundamentos da questão.

Atualmente dou plantões em shopping. Simples, tranquilo, pré-hopitalar.
A maioria dos atendimentos é de funcionário que não tá afim de trabalhar ou de clientes querendo chamar atenção (geralmente do ex-marido - elas ligam desesperadas pra eles virem buscá-las com a desculpa que o filho deles está sozinho e ela "está morrendo").
Agora a pouco atendi uma gestante, queixando de falta de ar intensa e dor nas costas. Sua colega mega preocupada, achando que a gestante estava muito mal, que era urgente, que eu precisava fazer alguma coisa.
Fui examinar a criatura. Estava tremendo, forçando respiração rápida, mexendo as mãos como se estivesse em desespero. Exame pulmonar e cardíaco totalmente normal. Saturação ótima, pressão ótima. Tudo perfeito. Mas a mulher tava lá balançando as mãos e hiperventilando.

Comecei a conversar com ela, dei um analgésico, um pouco de atenção, pedi pra colega chamar o marido para buscá-la, deixei ela sentada no consultório e... assim milagrosamente... a mulher melhorou 100%.
Quando ia reavaliá-la, perguntar se ela estava melhor, ela dizia que sim, dava umas hiperventiladas, tremia um pouco as mãos e só.
Ela só queria mesmo que o marido (coitado) saisse do trabalho e viesse buscá-la.

Ok.Ok. Não posso julgá-la.
Mas, de boa, fala se isso não é muito complicado de aceitar. A babaca da colega queria que eu saisse correndo, enfiasse a menina na ambulância pra levá-la pro hospital, falando comigo como se eu fosse a pessoa mais fria e maldosa do mundo por deixar a gestante deitada na maca descansando quando o que ela precisava mesmo era de "um exame de hospital".
Ahhh, faça-me o favor.

Agora, com um pouco mais de sangue frio e paciência (adquiridos depois de muito apanhar da vida médica), consigo simplesmente ignorar os pitis de acompanhantes. Respiro fundo, tento explicar. Se a pessoa não quer ouvir, simplesmente viro as costas e saio. 
Aí a pessoa começa a me xingar, fala pra todo mundo perto que eu sou a pior médica que ela já viu, que "vai ver" eu não sou nem médica e estou na verdade usando registro de outra pessoa... entre outras babaquices.
C'est la vie!

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