quarta-feira, 19 de maio de 2010

Algo está muito errado.
E não sei o que é.
Porque tudo está nos eixos agora.

Não sei que sentimento de desadaptação é esse que carrego por toda vida. Essa sensação de estar sempre cansada... cansada de viver.
Não tenho vontade de fazer nada, largo tudo pela metade, não me sinto feliz com coisa alguma.
Voltei a tomar remédio e parece que só piorou.

Hoje fiquei preocupada. A enfermeira, a psicóloga e a fono estavam discutindo o caso de uma paciente e eu só ouvindo. As 3 dizendo que algo estava errado com aquela paciente porque ela não queria se cuidar, falava muito em morte, desejava.
E eu, ao lado, só pensando "mas eu sou tão parecida... será que tem alguma coisa de errado comigo também?". Desde que me conheço por gente, meu maior sonho é que um caminhão passe em cima da minha cabeça e acabe logo com isso. Sério!
Na adolescência, no desequilíbrio total, tentei me matar umas 3 vezes. Durante a faculdade, nunca tentei mas já tive muuuuita vontade (ahhh, um KClzinho na veia...).

Aí, me formando, ganhando dinheiro, trabalhando, achei que eu ia ficar feliz. Não tenho pressões, não tenho problemas.
Mas tudo continua ruim aqui dentro.

Talvez seja por todas as decepções. Talvez seja por essa solidão.
No começo do ano, no começo do posto, eu estava bem, estava feliz, estudava, tinha vontade de crescer. Aí, depois de todas essas brigas e decepções, só quero ir embora (da vida!). Larguei o inglês ("que que tem a ver o cu com as calças???"), só durmo, não tenho vontade de sair, dirijo feito uma maluca na rua (da cama pro trabalho, do trabalho pra cama).
Emagreci 5kgs. Daqui a pouco vou parecer uma anoréxica de tão seca...

Hoje, um amigo me obrigou a ligar pra minha psicóloga.
Já fazia umas 3 semanas que ele vinha diariamente insistindo pra que eu ligasse, até arrumou o telefone de outras pra que eu tentasse.
Mas hoje ele sentou na minha frente, me prendeu e me obrigou a ligar na frente dele.
Ele sente que o caso é grave e não sabe como ajudar.

Tá foda!

domingo, 16 de maio de 2010

Puzzle completo

Por alguns momentos as coisas voltaram a fazer sentido.
Mas depois o sentido se perdeu de novo.
Aí, eu decide voltar ao quebra-cabeça e descobri que algumas peças ainda faltavam.
E não é que eram peças chaves?

Tudo se esclareceu agora. O quebra-cabeça está completo.
E sabe o que ele mostra?

Que tudo, absolutamente tudo, foi uma grande armação da enfermeira pra demitir a coitada da auxiliar de enfermagem. Toda a história, boa parte das fofocas foram inventadas pela enfermeira do mal. Simplesmente porque o chefe não aceitou quando ela pediu para demitirem a auxiliar.
E ela sabia que se eu pedisse ele demitiria.

Ou seja, ela tentou me manipular pra que eu pedisse o afastamento da auxiliar.
Só que ela é tão burra, tão burra, que deixou um monte de rebarbas no meio do caminho.

Estou me sentindo no meio de um filme policial, ou melhor, de uma novela mexicana, cheia de armações e intrigas. E no final, o mal se revela de onde menos esperava.
Daria uma boa história de Agatha Chritie.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Putz... e em meio a toda essa confusão de sentimentos e decepções tomei uma bela multa.
Uma não, na verdade, foram duas.
Andando a 80km/hora na faixa de ônibus, passei por um radar.
Idiota, né?!
Eu sabia que tinha radar ali mas estava tão transtornada, queria tanto chegar na minha casa, que acelerei. Ultrapassei uma fila de 12 carros que andavam a 40km/hora, na linha de ônibus, simplesmente no dobro da velocidade.
Bem feito!

Tudo isso é pra eu aprender que regras existem por uma razão e que a cada transgressão, haverá uma punição.
Não é à toa que eu não abro meu coração pra qualquer um. Mas foi à toa que abri dessa vez.
Erro crasso!

Quando "quero sair daqui!" significa muito mais

Quando decidi não prestar residência ano passado, quando escolhi ficar longe daquele hospital por pelo menos um ano, tinha vários motivos.
Um deles era pra descansar um pouco de todos aqueles egos, pra tentar me reencontrar como ser humano.
Nesses anos na faculdade de medicina, sentia que eu tinha me perdido de mim, que tinha me tornado uma pessoa ruim por conviver com muitas pessoas ruins, por conviver com muita dor e sofrimento.
Eu achava que no PSF as pessoas não eram tão estressadas, que elas não se juntavam pra derrubar os médicos (como acontece diariamente no hospital). Eu achava que encontraria pessoas gentis, felizes com sua carga horária de 40h semanais, trabalhando na comunidade e vivendo com ela.

Nas primeiras semanas, percebi que não era bem assim. As pessoas, como em qualquer lugar, reclamavam do seu trabalho, do seu cargo, do seu dia-a-dia, do seu salário.
Minha enfermeira se mostrou uma pessoa muito reservada e austera com as agentes de saúde. Ela não se misturava, dizia que precisava manter a distância, que as agentes de saúde não eram nossas amigas e que a gente tinha que tomar cuidado com isso.
Eu achava isso um dos maiores absurdos de lá. Na minha visão, a enfermeira se sentia mais e melhor que as agentes e as auxiliares de enfermagem, como se estivessem num nível diferente.

Com o passar das semanas e meses, fui percebendo que eu estava vivendo uma doce ilusão. Fiquei super próxima das meninas, via elas como minhas amigas não só como agentes de saúde. Conheci a casa delas, suas famílias, contei sobre minha vida... nos aproximamos de verdade e pra mim, estava indo tudo muito bem.

Até que...
Há duas semanas atrás, uma agente de saúde explodiu no meio de uma reunião. Ficou completamente alterada, colocou o dedo na minha cara, me xingou, questionou minhas condutas médicas, disse que não concordava com meu trabalho. Uma explosão que eu simplesmente não entendi de onde vinha nem pra onde ia.
E me fez acordar.
Depois daquele dia, comecei a reparar que várias das agentes de saúde estavam me alfinetando, ficavam me provocando, tentanto me desestabilizar.
Sentei com minha enfermeira, conversamos. Ela disse que estava conversando muito com as meninas porque elas andavam reclamando muito de mim. Elas ficavam questionando por que eu tinha condutas médicas tão diferentes da médica anterior, por que eu não dava importância quando elas traziam um caso de pacientes com os quais elas estavam preocupadas... entre outras coisas.

Tentei esclarecer a situação, a enfermeira tentou conversar com elas, explicar, fez um meio de campo.
E, semana passada, achei que tudo estava voltando ao normal. Parecia que a poeira tinha baixado, não se ouviam mais reclamações.

Claro que fiquei super chateada. Me dei conta que não podia confiar muito nelas, que elas estavam sendo falsas comigo, me tratando super bem e tentando me apunhalar pelas costas. Começou a cair minha ficha do por que a enfermeira tinha essa distância com elas, comecei a perceber e a entender que a distância era necessária e inevitável.
A enfermeira me explicou que as agentes se sentem muito menor e que elas acabam se juntando pra tentar fazer a gente ficar do tamanho que elas se sentem. Ela me contou diversas situações relacionadas a mim e a outros médicos que mostravam como elas nos viam.
No meio de tudo isso, me contaram certas coisas sobre a enfermeira também e percebi que na verdade não podia confiar em nenhuma delas.

Enfim, tudo isso aconteceu, tentei não me importar, me decepcionei com pessoas mais uma vez, descobri que tem gente ruim e mesquinha em qualquer lugar e não só no hospital (Dãããããr - que retardada que eu sou!!!!).

Eis que hoje, tomei um dos maiores tombos da minha vida.
Depois de passar uma semana achando que as coisas estavam tomando seus lugares, me adaptando a nova situação de distância das meninas, sou chamada pelo meu chefe pra conversar.
Como quem não quer nada, ele me perguntou se estava tudo bem e insistiu pra que eu lhe contasse o que estava acontecendo na minha equipe. Ele sabia que as coisas não estavam bem (mas até então eu não fazia idéia).
Contei pra ele alguns fatos meio graves que andaram acontecendo, expliquei algumas coisas, pedi que ele não interferisse porque acreditei que minha enfermeira estava dando conta de tudo. Disse pra ele que eu confiava no julgamento dela e que ela achava que estava tudo resolvido. E me comprometi a contar pra ele caso algo sério acontecesse novamente.

Depois que saí da sala dele, encontrei minha enfermeira e fui conversar com ela. Disse que o chefe tinha me chamado e que contei pra ele algumas coisas.
Ela virou pra mim super arisca e dissse "eu já tinha contado! ele já sabe de tudo!".
Não entendi nem a agressividade, nem do que exatamente ela estava falando.

Começamos a conversar. Ela estava super fechada, receosa, temerosa. Falava com "entre-linhas", me afrontou, me acusou... eu não estava entendendo de onde vinha tudo aquilo. Ficamos uns 40 minutos conversando, tentando entender o que cada uma estava falando... até que ela soltou:
- Vieram me dizer que você se juntou com a auxiliar de enfermagem pra me tirar da equipe. Me contaram que vocês estão tentando se aliar às agentes de saúde e todas vão pedir meu afastamento.

Na hora fiquei tão chocada que comecei a rir. Era tão absurdo, tão ridículo que tive que gargalhar.
Primeiro: se eu quisesse tirar a enfermeira, eu não precisaria me juntar a ninguém, seria só eu reclamar dela que os chefes a afastariam no dia seguinte. Como eles mesmos dizem, existe uma fila de espera de enfermeiros querendo trabalhar lá. Mas médico sempre falta. Eu nunca seria mandada embora porque eles não conseguiriam me substituir com tanta facilidade quanto substituiriam qualquer outro da equipe.
Segundo: se eu estava me juntando com as agentes, então por que raios elas estavam contra mim???

A gente começou a conversar, colocar as cartas na mesa e pensar.
Desabei a chorar. Fazia meses que eu não chorava. Fazia anos que eu não chorava na frente de alguém. E chorei como um bebê.
Todo o quebra-cabeça começou a fazer sentido. Tudo estava se encaixando.

A verdade é que as agentes estavam me jogando contra a enfermeira e jogando ela contra mim. Elas estão criando intrigas, inventando histórias, fofocando, distorcendo pra que a gente não se dê bem.
Desde que eu cheguei, a enfermeira sempre me defendeu. Sempre que algum paciente ou qualquer pessoa do posto falava mal de mim, ela me defendia com unhas e dentes e isso começou a incomodar as agentes porque elas acabavam sempre como as erradas da histórias, aquelas que tinham que engolir. E eu acabava sempre como "a doutora intocável que tem razão".

Por outro lado, elas não gostavam da enfermeira. Ela é muito rígida, muito exigente, muito certinha.
Não sei se o que elas querem é me tirar ou se elas querem me usar pra tirar a enfermeira.

O que eu sei é que meu mundo desabou.
Nunca na minha vida eu imaginei ser envolvida numa história tão suja, tão nojenta, tão ridícula. Não achei que alguém seria capaz disso. Nunca.
Nunca achei que no PSF eu seria vista pelos outros profissionais como inimiga, simplemente por ser médica. Não imaginei que o "todos contra nós" fosse realmente verdade em qualquer lugar.
Fico pensando se isso é fruto de inveja. Será que elas se sentem menor porque não tiveram a mesma oportunidade, porque elas são mais velhas e mais pobres e com oportunidades de vida muito mais restritas? Por que será? O que será?

Estou desolada.
Uma menina, sozinha num quarto escuro.
Me sinto uma menina, ingênua e tonta.

Fugi do posto na hora do almoço. Larguei meus pacientes, larguei tudo e vim pra minha casa. Passei o dia sozinha no meu quarto escuro.
Disse pro meu chefe que eu estava passando mal mas ele ficou sabendo que foi porque eu não consegui lidar com tanta informação. Ele ficou sabendo que sou ingênua demais, boba demais, fraca demais e que larguei meus pacientes simplesmente por não conseguir parar de chorar por um motivo tão ridículo.
Tudo bem.
Ele não vai me mandar embora mesmo...

A vida segue.
Como sempre, eu gostaria muito de poder sair dela.
Como não posso ainda, vou colecionando decepções e dores.
Um dia a gente aprende.