quinta-feira, 18 de novembro de 2004

Não estou muito bem hoje...
Não estou nada bem desde ontem. Não sei o que está acontecendo. Estou irritada, estou elétrica, estou cansada, muito preguiçosa, não tenho comido direito, tenho dormido muito...

Tenho tanto medo da tal doença... alguns dizem que não tem cura, outros dizem "é lógico que tem". Os que dizem não ter cura afirmam que vc tem uma crise que dura cerca de 8/10 meses, depois passa, vc fica bem por um tempo, depois tem outra crise e assim vai vivendo a vida... a não ser que resolva se entupir de remédios e gastar rios de dinheiro com terapia.

Tudo tão incerto.

Não sei se estou apenas estressada pela montanha de coisas a fazer ou se já estou antecipando o sofrimento do "faz 1 ano"... Não consigo parar de pensar "há um ano atrás eu estava...".

Hoje corri o dia todo. Nossa! Que dia!
Às 8h eu tinha reunião no hospital mas não fui (outro sintoma: estou novamente faltando nos meus compromissos), levantei às 8h30 e fui lavar roupa. Saí de casa às 10h30, correndo. Passei na Secretaria de Graduação para ver se tínhamos conseguido fechar a grade horária para ano que vem e descobri que, na verdade, haviam surgido mais alguns problemas (que eu, como representante dos alunos, preciso ajudar a resolver). Falei: "ah, isso é fácil, a gente fala com o professor e resolve sem probelmas" - o maior fingimento! Mas quem sabe ela não fica mais tranquila e tenta resolver tudo sem mim...
Às 11h, fui para o "departamento" de Educação Médica (onde dizem que eu moro porque vivo "trabalhando" lá), encontrei a secretária e reclamei para ela que as confusões do ano passado para a recepção dos calouros estavam se repetindo, que estávamos rediscutindo tudo novamente, sem necessidade etc, etc, etc. Ela falou: "Também acho. Sabe o que vc faz? Leva a ata do ano passado, todas as informações que vc acha que não precisa rediscutir e apresenta. Aliás, vamos agora na sala do diretor executivo resolver algumas pendências". E lá estava eu, assumindo mais trabalho, e, pior, indo novamente me meter na diretoria...
Depois, fui à sala da minha orientadora para ver como estavam os slides da apresentação que eu não consegui fazer e que ela fez com a maior facilidade. Recebi a notícia: a apresentação do nosso projeto no Congresso vai ser na mesma hora da apresentação de um outro projeto dela mas em salas diferentes. Ou seja, ainda valendo as leis da física, ela não pode estar em dois lugares diferentes ao mesmo tempo... então, ela quer que eu apresente o projeto. Apresentação oral! Num Congresso (nunca nem assisti esse tipo de apresentação). Sobre um trabalho que eu nem entendo (muito menos concordo) por que será apresentado. Hahahaha. NÃO VOU!
Falei para ela que não tem como, que eu morro de medo de falar em público, que não me sinto segura... Mas ela insisti em dizer que não tem como ela estar em dois lugares ao mesmo tempo (o que até me parece um bom argumento). Me angustiei horrores com essa história, não sei o que fazer para me safar dessa, mas vou arrumar um jeito.
Enfim, nem tive muito tempo para pensar a respeito pois desci para o Centro Acadêmico e encotrei novos problemas para resolver.

Às 12h, já horrivelmente estressada, larguei tudo e fui almoçar com minha madrinha querida. Conversamos bastante (finalmente!), demos muita risada. Foi ótimo. Mas logo ela teve que ir trabalhar.
Voltei ao Centro Acadêmico. Assim que entrei meu celular tocou. Era minha amiga de infância, com quem eu não falava há meses. Fiquei tão feliz ao ouvir a voz dela, mas logo:
Eu: - E aí, mulher? Como vc está? Tudo bem?
Ela: - Não. Tudo péssimo.
E começou a me contar que a mãe dela piorou da doença que ela tem (que minha amiga ainda não sabe o que é). Ela está tendo surtos, perdeu completamente a noção de realidade, é violenta, acha que está sendo perseguida o tempo todo. Muito provavelmente, ela tem esquizo. Minha amiga largou toda a vida dela (a faculdade, o emprego) para cuidar da mãe mas ela só piora e agora está colocando a vida dela e da família em risco. Ela me ligou porque já não sabe mais o que fazer e precisa de ajuda.
Lá fui eu falar com todas as pessoas que conheço que sei que poderiam ajudar. Mas psiquiatras mesmo que era o necessário, não encontrei nenhum: "liga amanhã, por volta das 11h que a doutora vai estar aqui". Fiquei desesperada.
Liguei para uma outra amiga minha (minha companheira nas caças à PQs) e pedi que ela fosse comigo ao hospital, tentar conseguir falar com alguém. 5 minutos depois me aparece ela, branca feito a recém pintada parede do C.A., com o cabelo todo molhado e uma cara horrível. Sentei para conversar com ela e ela me contou que tinha acabado de vomitar novamente. Comeu pra caramba e vomitou tudo - de novo. Distúrbio alimentar, "fuga", depressão grave... já não sei mais o que fazer com ela.
Mesmo assim, carreguei ela para o hospital comigo (torcendo para, no caminho, encontrar a médica que tem cuidado dos "problemas gástricos" dela).
Mas não fui à psiquiatria. Fui à clínica médica pois precisava resolver os problemas com os remédios da minha vó (a irresponsável veio me dizer, no domingo, que o remédio dela tinha acabado - isso porque eu já expliquei mais de mil vezes que ela tem que me avisar pelo menos 3 dias antes). Corri de um lado para outro, extremamente elétrica, agitada (nessas alturas não conseguia mais nem pensar no que estava fazendo). Não encontrei a médica da minha amiga, mas resolvi o problema da minha avó e resolvi esperar até amanhã (de manhã, já que tem que ser assim com PQs) para encontrar algum psiquiatra.
Liguei para a minha amiga de infância, dei algumas orientações do tipo (se a coisa apertar, chama os bombeiros ou a polícia que eles vão saber o que fazer).
Dei mais umas corridas para resolver pequenas coisas da graduação e fui para a reunião do C.A. Ineditamente, eu tinha 4 pautas para discutir. Aguentei bravamente e consegui discutir 3 (uma boa média). Fui correndo jantar (faltava exatamente 2 minutos para o restaurante fechar). Pelo menos o jantar foi bem sossegado. Encontrei uns amigos e ficamos falando sobre Cabo Verde (terra de uma das minhas amigas da mesa). Ela nos ensinou que esse belo país africano é composto por 9 ilhas, com cerca de 500mil habitantes, sendo que a ilha mais populosa tem cerca de 120 mil. Chegamos à conclusão de que, se algum dia conseguirmos juntar os 1.200 dólares para visitar Cabo Verde, não podemos fazer nada de errado lá, senão o país inteiro fica sabendo em poucas horas (imagina só, se numa cidade "grande" do interior de São Paulo, você faz uma coisinha de nada e vira notícia, imagina num país como esse).
Enfim, voltei ao C.A. e descobri que minha vida estava virada de cabeça para baixo, que eu preciso conversar sobre isso com alguém que não vá me julgar nem dizer "é vc faz coisas demais" mas desmarquei minha terapia que seria amanhã (simplesmente porque não queria ir), que tenho zilhões de coisas a fazer e resolver antes de viajar para Vitória (sexta agora, à noite).
E aí, então?
Depois de surtar, ligar para minha madrinha e não conseguir falar, fazer drama com a Ju, uma das minhas grandes preocupações (que além de tudo, não fala mais comigo direito, mas, pelo menos, ainda passa para me dar tchau - ainda bem que vc passou, fiquei feliz em te ver!), tentar fazer as coisas e não conseguir... larguei tudo, me joguei no sofá do C.A. e fiquei assistindo tv.
Assisti ao filme "Garota Interrompida". Que droga! Por que justamente esse filme estava passando hoje, justamente a essa hora? Chorei horrores, sofri, me questionei se não sou assim que nem uma das loucas do hospício... Foi aí que me veio toda a lembrança da depressão, das teorias, das discussões, dos sintomas.
Terminei o filme e vim escrever. Eu precisava colocar essas coisas para fora... E me fez bem. Estou me sentindo melhor.
Mas, novamente volto a me questionar se não estou me expondo demais... se não deveria escrever isso à caneta e trancar no fundo de algum armário bem escondido.

Como sou complicada, paranóica, medrosa, melancólica...

"Louco é assim que nem pessoa 'normal', mas de maneira ampliada. Quem nunca gritou sem ter razão? Quem nunca quis ser criança para sempre? Quem nunca teve muito medo? Quem nunca mentiu e sentiu prazer em fazê-lo?..."

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