quinta-feira, 10 de março de 2011

Viver é correr riscos


Ontem, uma tarde comum, de um dia comum, no meio das minhas primeiras férias do trabalho, recebo um telefonema aterrorizador.
Minha irmã, chorando compulsivamente, me disse que tinha acabado de se queimar gravemente - o rosto e o braço.
Enquanto tentava acalmá-la pra tentar entender melhor o que havia acontecido, passavam em minha mente imagens de pessoas queimadas à la Freddy Krueger. Cicatrizes grandes e horríveis, com deformações permanentes.

Minha irmãzinha, aquela que eu sempre disse a todos que era muito mais bonita do que eu, de repente, queimada e marcada pra sempre.
Claro que a imagem da minha mente estava muito exagerada - tanto pelo desespero dela no telefone quanto por meu medo.

Fui pra casa dela o mais rápido que consegui (demoraria cerca de 1h30), tremendo dos pés à cabeça e ligando a cada dois minutos.
Ela estava sozinha em casa (quer dizer, ela estava com minha avó velhinha que tem parkinson avançado e consequentemente é acamada), o carro dela havia quebrado no dia anterior, meu pai estava vaiajando há mais de um mês sem dar satisfação de onde estava.
Como eu não sabia a gravidade da situação e não conseguia entender pelas coisas que ela resmungava e choramingava no telefone, pedi que ela ligasse para o SAMU para que eles a buscassem o mais rápido possível.
Conforme passaram-se as "meia-horas", percebi que o SAMU não ia chegar mas ela foi se acalmando.
Ela conseguiu me contar que estava cozinhando leite condensado na panela de pressão e quando foi abrir a lata, explodiu na cara dela. Queimou a testa e embaixo dos olhos. Por sorte (MUITA SORTE) não atingiu os olhos. Perguntei se havia bolhas, ela disse que sim.
Como o SAMU estava demorando muuuuito, pedi para ela ligar lá e cancelar, pois eu certamente conseguiria chegar mais rápido e entendendo agora que a situação não era tão grave (não havia risco iminente), não necessitava de atendimento especializado rápido.

No caminho fui ligando para todos meus melhores amigos médicos (são muuuuitos). É incrível como, mesmo sendo médica, no momento em que minha irmãzinha estava envolvida, esqueci absolutamente tudo de medicina... Lembrava dos cuidados básicos tipo manter em água corrente e não passar nenhuma pomada, mas não consegui nem classificar a queimadura porque não conseguia lembrar cada uma.
Meus amigos de ouro! Me ajudaram enormemente, me acalmaram... Sem mencionar meu namorido que mais uma vez ficou do meu lado o tempo todo e fez absolutamente tudo que precisei (inclusive dirigir, porque obviamente eu não estava em condições).

Peguei minha irmã, várias garrafas de água e um bande gigante (para ela ir molhando o ferimento no caminho e aliviasse a dor), levei-a para o hospital, fiz tudo que pude (que na verdade não era muito) e a levei de volta pra casa.

De fato, a queimadura foi pequena, a maior parte de 1º grau, nada que vá deixar grande cicatriz (talvez não fique cicatriz alguma), mas fiquei mega traumatizada.

De repente, mais uma vez, me deparei com os riscos de viver, com a finitude, a fragilidade, a impotência...
Fiquei muito assustada de pensar novamente, que de um minuto para outro nossa vida pode mudar completamente ou mesmo acabar, sem que a gente tenha o menor controle.

Sou uma pessoa muito insegura por natureza. Fico sempre pensando em coisas idiotas como: e se eu ficar paraplégica ou cega?, e se meu filho nascer com deficiência?, e se meu marido me deixar? Mas por mais que considere essas possibilidades diariamente quando algo assim acontece perco completamente o chão, me desestruturo, me assusto de forma tão intensa que nem sequer consigo pensar no amanhã.

Tantas coisas podem dar errado todos os dias mas é impossível viver considerando isso. O problema é que não consigo parar de considerar, principalmente quando algo assim acontece.
Acabo entrando num ciclo de medo e renascimento meio maluco. Em alguns momentos parto pra aproveitar a vida sem pensar no amanhã (acelero o carro, gasto todo meu dinheiro em pequenos sonhos e confortos, dou presentes, me divirto) e logo depois me deprimido, me fecho, sento na frente da tv com meu amor do lado e faço de tudo pra me manter o mais segura possível ali.

Ainda não sei o equilíbrio entre esses dois modos de vida. Viver de forma minimamente segura mas aproveitando a vida e sendo feliz.
Tento fortemente me equilibrar e vou continuar tentando mas parece impossível.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito ótimo gostei muito mesmo, parabéns!!!